José Hugo Celidônio era um sujeito muito à frente do seu tempo. Assim como os seus amigos da vida toda, incluindo Thomaz Souto Corrêa, o homem que “inventou” a revista no Brasil, e o Ricardo Amaral (“alô alô”), autor do prefácio de Histórias e Receitas, livro que o Zé Hugo lançou no final dos anos 1990.
Na obra, ele relembra deliciosos momentos que viveu, normalmente ao lado de gente querida, contados com a verve que Deus lhe deu. Em “A Cozinha da Fazenda Boa Vinda”, sobre o refúgio do Thomas Souto Corrêa, no estado do Rio, ele cita uma frase do dono do lugar: “Prefiro uma casa de fazenda com fogão a lenha a uma com piscina”. Depois diz que nem precisava dela porque o lugar tem cachoeira, moinho de fubá de pedra, criação de frangos no sistema meio caipira meio poulet de Bresse (os melhores do mundo, na França), manteiga e outros laticínios feitos quase diariamente. E ainda hortinha com duas variedades de alface, rúcula, espinafre, rabanete, cenoura, tomate, chuchu e ervas frescas. Isto é, tudo preparado lá antecipava o que chamamos hoje de plant based, o que o faria rir do conceito, porque, afinal, ele traduz a ideia mais básica da culinária: comida boa se faz com produto bom, minha gente. E conhecer bem os alimentos, sua origem, suas qualidades é um predicado importante para um cozinheiro criativo e consciencioso.
José Hugo Celidônio, conta Ricardo Amaral, não era um chef, um jornalista culinário ou escritor de receitas. “Na realidade, ele era um personagem que encarna a figura do bon vivant na essência do termo e na sua melhor compreensão.” Tal espírito o fazia circular por todas as rodas e todos os lugares, sem preconceitos ou esnobismo, só bom gosto, elegância e uma generosidade típica de quem tem alegria de viver.
Era no seu sítio na região da Serra Fluminense, lambendo Minas, no entanto, que ele mais gostava de ficar. Com amigos e os filhos ou apenas com sua Marialice, mulher com quem casou apaixonado e assim ficou até o fim da vida. De qualquer forma, era ali que plantava, colhia e cozinhava para ele mesmo. Às vezes coisas novas, muitas outras reproduzia os seus pratos preferidos, que acabaram virando os preferidos também de tanta gente que frequentou os seus restaurantes.
A Chez Celidônio que vemos nestas páginas não é o sítio do passado, mas uma casinha simpática, num lugar adorável, na mesma região, depois de Teresópolis e antes de Juiz de Fora, arrumada com o maior capricho, repleta da referências que o chef acumulou desde sempre.
A vida rural, pouca gente sabe, também é parte fundamental do Zé Hugo das altas rodas. A sua origem, afinal, vem das fazendas de café no norte do Paraná, onde trabalhava com o pai. Então, foi, ainda estudante, nem duro nem endinheirado, para Paris, onde conheceu a boa mesa de bistrô, o que mudaria o seu futuro.
Todos esses elementos estão claramente expostos da casinha do Zé Hugo e viver uns dias por lá é compartilhar, de certa forma, da maneira como ele via o mundo e cultivava o que lhe era realmente caro. É incrível como ele está nos mínimos detalhes. Da mesa na varanda ligada a cozinha simples e gostosa à ambientação que tanto lembra os cottages, no interior da França.
A experiência aqui é única e inigualável – vai muito além de ficar num lugar tranquilo e de muito bom gosto. Ela nos induz a “conviver” com o chef e até seguir a rotina dele, como colher os insumos que usaria para o almoço. Mais ainda porque as refeições têm a mais pura assinatura do cozinheiro. Todas elas, do café da manhã ao jantar, são feitas por empregados que conviveram com o Zé Hugo e aprenderam a cozinhar da forma como ele queria.
Tem frango no leite com passas, picadinho de carne, espaguete cacio e pepe. Além de geleias caseiras, bolos, banana em calda. Não falta nem o pão francês canoinha, com manteiga da fazenda. Exatamente como ele comia, com um largo sorriso no rosto, todos os dias pela manhã.
Chez Celidônio – Reservas pelo site do Airbnb, diárias a partir de R$ 550