Eu não estava no lendário Gran Café Capucines, de 1875, no Boulevard des Capucines, onde, diz a lenda, o sanduíche mais famoso da França fora inventado, por acaso. Num dia que faltou baguete, o espirituoso chef local cortou fatias do pain de mie (pão de miga), colocou gruyère e presunto dentro dele e, para deixá-lo crocante, levou ao forno para tostá-lo, besuntado de manteiga. O molho bechamel viria mais tarde, ninguém sabe dizer de onde.
Agora, sim, eu estava num café menorzinho e moderninho, o Caducée, com pegada mais autoral, no ainda badalado quartier dos Batignolles. Foi quando resolvi fazer como Marcel Proust, no clássico Em Busca do Tempo Perdido e, ao modo como descreve, pedi licença para pedir um croque monsieur. Em bom português, o “senhor mordida” (do verbo croquer, em francês).
A garçonete, muito simpática, inclinou a cabeça e, enquanto me servia um capuccino caprichadíssimo, sorriu e disse: “Vou falar com o chef”. No caso, o jovem Fabien Sam, guarda bem o nome dele. Não demorou para o nouveau croque monsieur chegar à mesa uma impecável reinterpretação do clássico, sem perder a essência original.
No lugar do gruyère, o sanduíche tinha queijo brie e um creme de emmental substituindo o bechamel. Em vez do presunto cozido, presunto cru – cujo salgadinho provocava um contraste perfeito com o adocicado do famoso e esburacado queijo suíço. Enfim, não sou dos mais chegados a reinterpretações, mas esse é um golaço.
O sanduíche, para reforçar, não está no cardápio do Caducée, lugar gostoso com uma ótima carta de criações com café, além de uma vinnoisserie de primeira.
O lugar também é restaurante com uma comida sacada e barata, ao estilo bistronomique (como os franceses chamam os bistrôs com pegada gastronômica) focado na cozinha de mercado (aquela feita com produtos sazonais).
O Caducée é um desses achados de Paris.
Café Caducée – 19 Rue Brochent, Paris